Precisamos parar de falar em TRANSFORMAÇÃO DIGITAL.
Em 1998, assisti à primeira palestra sobre e-commerce. Lembro de perceber como o palestrante parecia hiper qualificado e sofisticado ao levar 40 minutos para explicar o que era “B to C” e “B to B”, enquanto previa o iminente desaparecimento do varejo físico e até mesmo dos shopping centers. Soon, very soon, em bom português da época. Vejam, 2020 deve trazer 20 novos shoppings ao Brasil, que passará a ter quase 600 empreendimentos desse tipo.
Em 2009, a Exame no Brasil fez uma matéria de página dupla “O email morreu”. Nesse ano, ainda a revista Época fez uma matéria de página inteira “Facebookcídio” e como as pessoas estavam saindo da rede social….
Por essa época, uma agência anunciou o fim do seu site, substituído por um canal no YouTube. Ainda nesse período, assisti a uma palestra de outro dono de agência, explicando que o foco agora era no ser humano e que não fazia mais sentido eles contratarem publicitários, redatores e que, agora, contratavam apenas sociólogos, filósofos e psicólogos.
Em 2010, o best seller Chris Anderson não teve pudores em publicar a Wired com a capa “The Web is Dead”, numa mega teoria que os apps substituiriam a web. Recentemente, andaram publicando algo sobre a morte iminente dos apps…
Também tivemos que ouvir palestrantes gastarem horas e horas explicando a revolução que aconteceria por meio da Blogosfera e quantos sites seriam substituídos por blogs. Pior foi quando algum malandrinho descolado do mercado lançou o fantástico termo DIGITAL 2.0. Muitos, como eu, pensaram na época “mas eu sequer sabia que eu estava no 1.0″…
Ahhhh sim, quantas palestras tentaram vender que o Inbound Marketing realmente era algo novo? E, finalmente, estamos na era da expressão “TRANSFORMAÇÃO DIGITAL”. Sabem o que essa expressão tem em comum com BLOGOSFERA, DIGITAL 2.0 e INBOUND MARKETING? Todas não significam coisa alguma a não ser o mercado digital gritando para o cliente: “Olhem a gente aqui, como somos sofisticados, como representamos o futuro, como devem nos pagar caro para mudar seu mindset”. Pior ainda é o marketing do medo: “A empresa que não fizer a Transformação Digital está com os dias contados…”
O cliente tem uma dificuldade imensa de entender. E o mercado digital de explicar. Sério, com quem você sentaria, que conseguiria em 10 minutos explicar, finalmente, que diabos significa TRANSFORMAÇÃO DIGITAL? “É a mudança do mindset de todo o time da empresa que agora pensa nela digitalmente” é uma das confusas explicações que li. Enquanto isso, a entidade que representa o mercado digital brasileiro enviou uma newsletter semana passada para o meu email com o criativo título NEWS ENTIDADE #92. Em 2012 (acho que já dentro do Digital 2.0, quem sabe 3.0), eu palestrava explicando a relevância do título para a abertura dos emails. Faz apenas dois anos que empresas como Magalu e Colombo passaram a explorar bem o título do email.
O email, o e-commerce, o site, os ads, as redes sociais são ferramentas. Apenas isso. Ferramentas de comunicação que aumentam engajamento, que encurtam distâncias e ajudam (MUITO) a vender. Nós, do mercado digital, vendemos coisas muito simples. Fáceis de implementar e usar. Ponto. Final.
Nenhuma empresa tem que se transformar digitalmente. A menos que a Dinamize, por exemplo, fosse os Correios e passasse a enviar email marketing. Talvez aí fizesse sentido.
A verdade sobre o processo de usar a internet para as empresas já estabelecidas em seu mercado é EXATAMENTE o oposto.
NÃO SE TRANSFORME. Mas transponha para a internet exatamente sua essência, quem você é, seus produtos, sua experiência, decoração, sensações. Tudo que, enfim, representam o sucesso da empresa na vida real. Quem produz ou vende calçados entende desse mercado.
Não tem que se transformar, mas usar a internet para projetar e vender esse produto. Um bom varejista já sabe, a essa altura, o que vai vender no verão de 2021. E a internet é plataforma para ele dividir esse conhecimento, para promover produtos que apenas ele conhece. Internet é mídia, é veículo, FERRAMENTA para o mais importante. O produto.
Urge pararmos de vender a internet como um fim em si mesma, como um novo negócio. Ela é meio.
Para usar a internet, não há necessidade de transformação alguma e nem de mudar nenhum mindset. Nós somos a gráfica, o jornal, o fotógrafo. Somos ferramenta. Um bom site, um bom posicionamento desse site, ads dele, um bom email marketing, uma boa plataforma de ecommerce, uma boa agência que ajude nesse posicionamento são ferramentas importantes para o sucesso. Mas isso é simples, dominado e sabido há mais de 10 anos. A novidade é que o básico de 10 anos atrás ainda é muito mal feito.
É simples, mas não é fácil. Nem mais fácil fica se a cada temporada do hype lançamos uma nova expressão que, no fim do dia, mais complica do que simplifica a vida do micro, pequeno e médio empresário brasileiro, 90% do nosso mercado. Que deveria saber, a essa altura, que o Digital 1.0 bem feito deixará ele anos luz à frente da sua concorrência. E o que é o digital 1.0? Ops….
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